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Opinião: Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes (2024) – Netflix

Rebel Moon: Part 2 – The Scargiver/EUA – 2024

Dirigido por: Zack Snyder

Com: Sofia Boutella, Djimon Hounsou, Ed Skrein, Michiel Huisman, Anthony Hopkins…

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Opinião: Wonka (2023)

Wonka/REINO UNIDO, EUA – 2023

Dirigido por: Paul King

Com: Timothéé Chalamet, Olivia Colman, Jim Carter, Rowan Atkinson, Sally Hawkins, Keegan Michael-Key, Matt Lucas…

Sinopse: Wonka é uma comédia musical baseada no clássico livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, do autor britânico Roald Dahl. O filme mostra as origens da história do jovem Willy Wonka (interpretado por Timothée Chalamet), que apareceu nos cinemas pela primeira vez na produção de 1971 e, mais tarde, ganhou um remake estrelado por Johnny Depp em 2005. Antes de se tornar a mente brilhante por trás da maior fábrica de chocolate do mundo, Willy precisou enfrentar vários obstáculos. Cheio de ideias e determinado a mudar o mundo, o jovem Wonka embarca em uma aventura para espalhar alegria através de seu delecioso chocolate. Nela, ele acabou conhecendo o seu fiel e icônico assistente, Oompa Loompa (interpretado por Hugh Grant), que o ajudar a ir contra todas as probabilidades para se tornar o maior chocolatier já visto. Mostrando que as melhores coisas da vida começam com um sonho, o filme mistura magia, música, caos, afeição e muito humor.

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Opinião: Era Uma Vez Um Gênio (2022)

Era Uma Vez Um Gênio” é sem dúvida um filme apaixonado de seu diretor George Miller, responsável pela obra-prima moderna do cinema de ação chamado “Mad Max: Estrada da Fúria”. Aqui, o diretor embarca em um projeto de fantasia que narra histórias dentro de outra história para falar de amor, ambição, desejos, sonhos e comportamento, e como os “contos de fadas” sempre foram tramas que deram errado por causa das escolhas erradas da maioria de seus personagens. 

Nesta fantasia sombria excêntrica temos a Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton), uma acadêmica proeminente que está contente com sua vida até encontrar um Djinn (Idris Elba), que oferece três desejos em troca de sua liberdade. No entanto, tal situação irá apresentar dois problemas: primeiro, ela duvida que ele seja real e, segundo, ela sabe onde historicamente na mitologia e na tradição os desejos deram errado. Para convencê-la, o Djinn defende seu caso contando suas histórias fantásticas ao longo dos séculos.

O talento evidente de Tilda Swinton e Idris Elba é inegável, o visual por vezes estranho combina com as intenções da narrativa, e como bem disse lá atrás, a paixão de Miller pelo projeto emana em tela. No entanto, ao menos para mim, “Era Uma Vez Um Gênio” nunca consegue alcançar a emoção necessária que torne sua aventura estranhamente envolvente, naquele melhor estilo de quando Terry Gilliam estava em seu auge. 

Ao escolher contar histórias dentro da história, o filme frequentemente quebra a linha principal e me tirou completamente do envolvimento com os personagens apresentados. Grande parte do longa temos Swinton e Elba dentro de uma quarto de hotel em uma conversa que vai cansando e nos fazendo se perguntar “que horas o filme vai realmente começar?”. Personagens mitológicos, e históricos, são subutilizados naquilo que são pequenos curtas dentro de uma narrativa maior. 

Particularmente, “Era Uma Vez Um Gênio”  foi uma experiência irregular que apesar das boas intenções de seus envolvidos, nunca consegue proporcionar uma aventura fantástica realmente memorável. Infelizmente. 

Three Thousand Years of Longing/EUA – 2022

Dirigido por: George Miller

Com: Tilda Swinton, Idris Elba, Ece Yüksel…

Sinopse: Em Era Uma Vez Um Gênio, enquanto participava de uma conferência em Istambul, a Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton) encontra um “djinn” (Idris Elba), o que no ocidente, é comumente denominado como “Gênio”. A criatura lhe oferece três desejos em troca de sua liberdade, e isso apresenta dois problemas: primeiro, ela duvida que ele seja real, e segundo, por ser uma estudiosa de histórias e mitologia, ela conhece todas as histórias de advertência sobre desejos que deram errado. O djinn defende seu caso contando histórias fantásticas de seu passado e, eventualmente, ela é seduzida e faz um desejo que surpreende os dois, o que leva a consequências que nenhum dos dois esperava.

Three Thousand Years of Longing (2022) - IMDb
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Opinião: Sonic 2 (2022)

Sonic é um dos personagens de video game mais amados da cultura pop. Fato. E seu primeiro filme live-action lançado um pouco antes do inicio da pandemia em 2020 foi um surpresa cheia de carisma, humor e aventura – e que trazia um espalhafatoso Jim Carrey para agradar o público mais velho que cresceu com o ator. Todos os ingredientes misturados maravilhosamente bem e que renderam um excelente programa familiar.

Geralmente, quando resolvem trazer personagens fantásticos para a Terra em filmes adaptados de vídeo game, o resultado quase sempre é uma vergonha alheia que se difere bastante da essência do material original. Incrivelmente, com “Sonic – O Filme” aconteceu o oposto e o resultado é um filme cujo núcleo de personagens humanos são minimamente interessantes para a simplicidade da história, e não tiram o foco do protagonista e seus elementos mágicos. É um filme de trama bem simplória, mas contada com coração e esmero. E tal evidência transparece em cena.

E eis que, inevitavelmente, chegamos à continuação lançada com menos de dois anos. O resultado? Como acontece em continuações, tudo é maior, mais cheio de efeitos, ação e grandiosidade. Mas em se tratando de Sonic, o saldo final é altamente positivo e animador. É um filme feito para a criançada mas que diverte também o público mais velho que vai acompanhar os pequenos no cinema. É uma ótima diversão familiar que traz novos personagens, mantém o carisma de seu elenco humano, possui uma mensagem válida sobre família e amadurecimento, e claro, eleva a insanidade catástica de Jim Carrey como o vilão Dr. Robotinik. Uma diversão para assistir com a família reunida, abraçar o exagero e abrir um sorriso no rosto. Recomendado!

Sonic the Hedgehog 2/EUA

Ano: 2022

Dirigido por: Jeff Fowler

Com: Jim Carrey, James Marsden, Ben Schwartz, Idris Elba…

Sinopse: Sonic 2 – O Filme é uma sequência dos acontecimentos do primeiro live-action de Sonic – O Filme, baseado no videogame de sucesso. Após conseguir se estabelecer em Green Hills, Sonic está pronto para mais liberdade e quer provar que tem o necessário para ser um herói de verdade. Seu teste virá quando Tom e Maddie concordam em deixá-lo em casa enquanto saem de férias para ir ao casamento da irmã de Rachel, no Havaí. Mas para a infelicidade do ouriço, a data acaba coincidindo com o retorno do Dr. Robotnik, dessa vez com um novo parceiro, Knuckles, depois que o doutor do mal vai embora para o planeta cogumelo. O terrível Robotnik está à procura de uma esmeralda com o poder de destruir civilizações. Sonic se une a um novo companheiro, Tails, e juntos eles embarcam em uma jornada para encontrar a esmeralda antes que ela caia nas mãos erradas.

Sonic 2' é a maior estreia nos cinemas de Manaus neste fim de semana
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Opinião: Animais Fantásticos – Os Segredos de Dumbledore (2022)

Com Johnny Depp ou sem Johnny Depp, a questão é que poderiam chamar Daniel Day-Lewis para substituir o ator e ainda assim este seria o menor dos intempéries destes novos filmes da franquia Harry Potter. “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” – já disponível nos cinemas – mantém todos os problemas do filme anterior e continua sendo uma obra que se estende além do necessário e alonga situações que não acrescentam em nada à história. Tudo se repete e nada de impactante acontece em 2 horas e 22 minutos. Apenas nos instantes finais o texto se desenvolve mas ainda assim para colocar os personagens antagonistas em lugares já pré-estabelecidos no longa anterior. Ou seja: tudo mais do mesmo e sem novidades.

J. K. Rowling pode até ser boa escritora, mas como roteirista deveria deixar a função para quem realmente tem experiência em criar texto para cinema, já que “Os Segredos de Dumbledore” é desprovido de foco, possui zero urgência e, mais uma vez, a trama mais importante destes filmes derivados (o grande confronto entre Dumbledore e Grindelwald) é deixada de coadjuvante para explorar personagens como Newt e seus amigos em uma jornada onde nenhum deles é, de fato, relevante. A sensação é que a dualidade entre Dumbledore e Grindelwald nunca sai do marasmo e nada acontece para iniciar a tal aguardada guerra elitista almejada pelo vilão.

O plano inicial era lançar cinco filmes, mas a cada novo lançamento de “Animais Fantásticos” a bilheteria só mingua e os números passam longe dos almejados pela Warner Bros. Se de fato tal plano estiver de pé, é nítido como “Os Crimes de Grindelwald” e “Os Segredos de Dumbledore” só existem para fazer dinheiro e ‘encher linguiça’. São obras arrastadas e que não acrescentam tensão, ou relevância ou peso narrativo na criação deste conflito iniciado sutilmente em “Animais Fantásticos e Onde Habitam”.

A sensação que tenho é que a Warner está fazendo o público de besta, já que sabe que por se tratar do universo Harry Potter os fãs irão pagar de qualquer maneira o ingresso, independente se o filme avança, ou não, a história. Mas isto daqui é cinema e não seriado, então é decepcionante perceber como pouco se avançou em dois filmes.

Particularmente, só verei “Animais Fantásticos 4” sentado no sofá de casa, porque pagar para ver no cinema eu não pago mais. Meu dinheiro, apenas, pode não ser relevante para os cofres da Warner, mas para o meu bolso é – sem falar da gratificação do meu tempo. E como se mostrou nos dois últimos filmes, esta gratificação não foi recompensada.

Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore/EUA – 2022

Dirigido por: David Yates

Com: Eddie Redmayne, Jude Law, Mads Mikkelsen…

Sinopse: Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é a sequência das aventuras de Newt Scamander (Eddie Redmayne), um magizoologista que carrega em sua maleta uma coleção de fantásticos animais do mundo da magia descoberta em suas viagens. Dessa vez, ele é convocado por Albus Dumbledore (Jude Law) na luta contra o vilão Grindelwald (Mads Mikkelsen). A trama mostra por que o célebre bruxo de Hogwarts, que sabe da busca por controle de Grindelwald e é incapaz de detê-lo sozinho, confia no magizoologista para liderar uma equipe de bruxos, bruxas e um bravo padeiro trouxa em uma missão perigosa. Ao longo do enredo, eles encontrarão velhos e novos animais fantásticos, além de enfrentar a crescente legião de seguidores do vilão. Mas o que o grupo de Scamander não sabe é que Grindelwald colocará o Mundo Mágico em uma luta contra o mundo dos trouxas. Enquanto o universo da magia fica mais dividido, Dumbledore deve decidir por quanto tempo ele ficará à margem da guerra que se aproxima.

Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore (2022) - IMDb
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Opinião: A Lenda do Cavaleiro Verde (2021)

O novo filme de David Lowery é inspirado no poema “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde”, escrito no século XIV, e é um dos textos arturianos que mais ganharam força ao longo dos anos pela temática memorável sobre honra, nobreza e morte – temas estes que sempre fizeram parte dos textos arcaicos de lendas sobre grandes homens que venceram o ímpeto do mundo e conseguiram o reconhecimento tão almejado – o próprio Rei Artur é o maior expoente disto.

Na trama acompanhamos a história de Gawain (Dev Patel), um membro da corte do Rei Arthur (Sean Harris), além de sobrinho do mesmo, porém jovem e sem responsabilidades – com uma vida regada a mulheres e prazer. No filme (diferente no conto original), Gawain ainda não é um cavaleiro e precisa se provar digno para receber do rei tal honra. Esta mudança feita pelo diretor é importantíssima para agregar urgência e maior profundidade aos conflitos internos do personagem, alguém que sonha em ser um cavaleiro mas está dividido entre o medo e a coragem, o dever e os sentimentos e a necessidade constante em ter uma história sua para contar ao mundo (em se tornar uma lenda!).

“A Lenda do Cavaleiro Verde” é um desses filmes marcantes que surgem de vez em quando e não somente entrega visuais acachapantes e inesquecíveis, como subverte temas e o próprio material original para construir algo novo, surpreendente e fora do cinema padrão de aventuras medievais. Aliás, o longa não adota a trajetória convencional da jornada do herói, mas vai trabalhar noções de uma sociedade antiga cuja honra era medida pela força, por uma ato de bravura, para destrinchar os sentimentos mais íntimos de um sujeito que na busca para pertencer e usufruir da glória e do poder de um grupo, vai precisar entender que a verdadeira honra e virtuosismo de uma vida é ter empatia, reciprocidade e bondade para consigo e com todos.

Morrer com honra e dignidade ou continuar vivo, mas sem a virtude da honra? A honra, hoje, pode não ser algo tão almejado e importante como na literatura arcaica de cavalaria. Mas o que é ter honra? Até onde ela se estende? É não ter medo da morte? É matar centenas em nome de uma causa? Um rei? O longa é incisivo ao questionar tais valores, ao colocar em pauta as lendas em contraste com os feitos ‘reais’ de seus protagonistas.

“O Cavaleiro Verde” é um filme menos didático e verborrágico em sua narrativa, e mais sensorial. Lowery não entrega explicações minuciosas da fantasia daquele mundo, mas apresenta através da imagem e simbolismos conceitos que forçam o público a pensar, repensar, entender e ir além do superficial. Não é um filme de ação com lutas épicas medievais como “Coração Valente” ou outros grandes exemplos do cinema, pelo contrário, é um drama meditativo, por vezes contemplativo, sobre o homem versus a natureza, e também sobre o homem contra a si mesmo (sendo este o seu maior inimigo). Mas tudo aqui tem propósito e objetivo.

Definitivamente é uma obra que não se entende, e não se extrai todas as nuances de sua trama, apenas com uma assistida. É um filme que requer revisitas e uma dedicação maior do expectador (assistir mexendo no celular é, sem dúvida alguma, um erro terrível).

Com a melhor fotografia de 2021, e uma das produções mais lindas dos últimos anos (infelizmente, não foi lançada nos cinemas brasileiros), Lowery não entrega um filme fácil, mas repleto de nuances e arbitrariedades que tornam a experiência de assistir “A Lenda do Cavaleiro Verde” um colosso emocional intimista e, por vezes, incômodo (no bom sentido).

The Green Knight/EUA – 2021

Dirigido por: David Lowery

Com: Dev Patel, Sean Harris, Alicia Vikander, Joel Edgerton, Barry Keoghan…

Sinopse: The Green Knight é um filme de fantasia baseado no universo de Camelot. Na história, Sir Gawain (Dev Patel), sobrinho do Rei Arthur (Sean Harris), embarca em uma aventura épica para confrontar um perverso inimigo, o Caveleiro Verde.

The Green Knight (2021) - IMDb
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Opinião: Alice e Peter – Onde Nascem os Sonhos (Come Away)

“Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” é um filme que propõe contar como se deu a origem dos contos clássicos de Peter Pan e Alice no País das Maravilhas sob o desenvolvimento da história destes dois irmãos (Peter e Alice) e seus problemas familiares. É uma reimaginação válida, e até interessante, mas que nunca consegue alcançar um ápice necessário que uma fantasia exige, e se perde em dramas que tornam a experiência cansativa para as crianças e adultos. Nada aqui é de fato empolgante ou envolvente. Tanto que um filme de fantasia que mescla duas tramas conhecidas e com Angelina Jolie no elenco passar desapercebido dos cinemas… é um mau sinal. 

A questão é que “Alice e Peter” é um filme barato. Aposta em uma construção de época muito bem feita, com cenários e figurinos bem feitinhos, mas não tem financeiro para criar a fantasia e os efeitos necessários. Ao colocar as crianças em uma jornada para ajudar seus pais que estão com problemas financeiros, e no casamento (após uma tragédia), o filme nunca saí de um drama arrastado, e deixa de lado o senso de aventura, a fantasia e a magia necessária para explorar os mundos de Peter Pan e Alice. 

As próprias soluções finais para levar Alice e Peter ao seus respectivos universos soam abruptas e jogadas pelo roteiro. E se não tem condições de gastar milhões com efeitos especiais, crie a fantasia e os mundos mágicos utilizando bons e velhos cenários feitos a mão – algo que Hollywood fazia muito bem em seu passado. Algo que o longa “Pinóquio com Robert Begnini conseguiu de certa maneira recriar ano passado – tudo com efeitos práticos, maquiagem e figurino. 

Mas “Alice e Peter – Onde Nascem os Sonhos” nunca abraça a fantasia, mas fica restrito a um drama familiar comum e repetitivo. As justificativas para relacionar certos personagens a outros nomes conhecidos das históricas clássicas em questão é vergonhosa, não faz sentido e não tem preparação alguma. Elas existem porque a roteirista Marissa Kate Goodhill quis. Este é o primeiro filme live-action dirigido por Brenda Chapman, que conseguiu resultados melhores quando dirigiu as animações “Valente” e “O Príncipe do Egito” (seu melhor trabalho até hoje). 

Come Away/Reino Unido – 2021

Dirigido por: Brenda Chapman

Com: Angelina Jolie, David Oyelowo, Michael Caine, Jordan Nash, Keira Chansa…

Sinopse: Antes de Peter se tornar Pan e Alice visitar o País das Maravilhas, eles eram irmãos que viviam em uma idílica casa de campo com seus pais e seu irmão mais velho. Após a trágica morte do irmão, Alice (Keira Chansa) e Peter Pan (Jordan Nash) decidem ajudar seus pais, Rose (Angelina Jolie) e Jack (David Oyelowo), a superarem a dor dessa perda tão traumática.

Crítica: “Alice e Peter: Onde nascem os Sonhos” | AToupeira

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A Forma da Água

Guillermo Del Toro sempre foi um desses diretores que apoiado à sua paixão pelo cinema, e por criaturas geralmente intituladas de “monstros”, idealizou mundos tão singulares, e tão repletos de carinho, amor e devoção que se tornou um querido da indústria. “A Espinha do Diabo”, as adaptações de “Hellboy”, este “A Forma da Água” e sua obra-prima até hoje, “O Labirinto do Fauno”, são projetos que mesclam o interesse de Del Toro pelo lúdico e, principalmente, em mostrar que “monstro” é uma definição superficial, e equivocada, baseada em conceitos puramente visuais, quando, na realidade, ser monstro ou não é algo que provém do interior. Do caráter. E não é preciso ter garras, dentes afiados, escamas ou orelhas pontudas para ser um. Na visão Del Toro, os tais “monstros” são os mais humanos e verdadeiros seres que existem, enquanto o homo sapiens utiliza-se de paradigmas sociais para esconder a sua própria maldade.

A trama se passa nos anos 60, período internacionalmente instável com os Estados Unidos vivendo um conflito político conturbado com a União Soviética na chamada Guerra Fria. Em meio a isso, Elisa (Sally Hawkins) é uma faxineira muda de um laboratório experimental ultra secreto do governo estadunidense que se apaixona por um ser anfíbio descoberto na América do Sul, e levado cativo pelos norte-americanos. Para impedir que a criatura continue sendo mal tratada, ela planeja uma fuga juntamente com seu fiel amigo Giles (Richard Jenkins).

“A Forma da Água”, aos olhos leigos, soa como uma obra estranha, com uma visão deturpada de valores sociais e que romantiza, acima de tudo, a zoofilia. Olha, por um lado não deixa de ser verdade se considerar a criatura como um “animal aquático”. Mas, por outro ângulo, aos olhos de Del Toro – e ele transmite muito bem esse pensamento -, seu “monstro” não é meramente um animal. É um ser com poderes divinos – ele não explica à fundo, o que é ótimo – que se difere da aparência humana, mas cuja bondade excede seu visual. Del Toro cria uma alegoria para pregar o equívoco de se julgar pela aparência. E o faz de maneira romântica, suave e homenageando o cinema. Aliás, esta última característica podemos relacionar com outro sucesso do ano passado chamado “La La Land”. Ambos os projetos contam suas histórias puramente de maneira emocional e usando o legado cinematográfico para reproduzir homenagens, referências e exaltar o poder da linguagem visual do cinema. Temos até um momento em “A Forma da Água” que lembra, e muito, uma sequência de dança de “La La Land”, cuja mesma cena é também uma reprodução de um filme antigo. Resumindo: é o cinema de geração. Obras atemporais que deixaram sua marca, e são retransmitidas sob um novo prisma para a atuação geração. O importante é não perder a essência, e tanto Damien Chazelle em “La La Land”, quanto Del Toro aqui, fazem de tudo para isso não acontecer.

Não é a primeira vez que o cinema cria um romance entre um ser humano e uma criatura diferente da nossa aparência. E algo que Del Toro aborda com perfeição é o desejo mais arcaico da nossa natureza: o sexo. É ele quem nos torna indistintos, e nos faz indiferente em relação a qualquer animal. O que irá diferenciar é justamente a mescla entre o instinto, a racionalidade e a natureza de cada um. Encarnando o vilão da história, o personagem de Michael Shannon é o retrato do verdadeiro monstro. Aquele que possui aparência de humano, mas é frio, impetuoso e disposto a qualquer ato de violência para apresentar um ótimo resultado e se manter no poder.

Tudo bem que Del Toro cria um filme maniqueísta onde cada personagem é tão bem definido em sua personalidade que não há dúvidas sobre quem é quem. Diferente de nós humanos, que somos instáveis e constantemente em duelo entre nossa natureza boa e ruim. Mas não vejo isto como problema. “A Forma da Água” é uma fábula. E como fábula utiliza do maniqueísmo para transmitir uma mensagem, e ressaltar cada elemento dela. O que faz o filme tão envolvente é justamente a condução nostálgica, e romântica, de Del Toro. Sua direção é sensível e carinhosa, e consequentemente envolvente.

Indicado a 13 Oscar, se ano passado não premiaram o agridoce e esperançoso “La La Land”, talvez “A Forma da Água” saia vitorioso como Melhor Filme justamente por ser também um romance otimista, entusiasmado e cheio de esperança. Algo que nos dias atuais – principalmente neste último ano conturbado para Hollywood -, é um escapismo necessário que valoriza as diferenças, o respeito e, principalmente, o amor.

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–> Indicado a 13 Oscar: Melhor Filme, Diretor, Atriz (Sally Hawkins), Ator Coadjuvante (Richard Jenkins), Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer), Roteiro Original, Design de Produção, Fotografia, Montagem, Figurino, Mixagem de Som, Edição de Som e Trilha Sonora Original.

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The Shape of Water-EUA

Ano: 2017 – Dirigido por: Guillermo Del Toro

Elenco: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Richard Jenkins, Doug Jones, Michael Shannon…

Sinopse: Década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos e transformações sociais dos Estados Unidos da Guerra Fria, a muda Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa e maltratada no local. Para executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer).