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A Qualquer Custo (2016)

Uma das surpresas das indicações ao Oscar 2017, indicado a 4 prêmios, incluindo Melhor Filme e Ator Coadjuvante para Jeff Bridges, “A Qualquer Custo” é um western moderno que fala muito sobre a crise financeira estadunidense e utiliza a história de dois irmãos, Tobby e Tanner,  para mostrar uma América longe dos sonhos tão ávidos e prósperos como se vende por aí.

Na trama, Tobby e Tanner decidem assaltar vários bancos para impedir que o banco tome o território da família. Tobby (Chris Pine) está desempregado, divorciado e é pai de dois filhos. Enquanto Tanner (Ben Foster) é um ex-presidiário em condicional. Durante a execução deste plano irônico, um delegado chamado Marcus Hamilton (Jeff Bridges) inicia sua busca para capturar os dois irmãos.

O roteiro de Taylor Sheridan (também indicado ao Oscar) não traz em sua essência uma trama original, mas ela tinha tudo para cair em resoluções comerciais previsíveis e batidas, e ao invés disso, Sheridan desenvolve a história com um olhar atento e interessado em analisar, com imagens e ótimos diálogos, a falência social e financeira de um povo. A paisagem seca é repleta de bombas “cabeça de cavalo”, usadas para extrair petróleo, e grande parte do território foi comprado por bancos e grandes corporações, e o comércio das cidades pequenas foi gradativamente diminuindo, em resultado das poucas oportunidades de crescimento econômico. Os bancos aumentam o seu poderio através de leis de propriedade que os beneficiam a tomar terras mediante a atrasos de pagamento, multas, etc, e tanto Tobby quanto Tanner são dois exemplos entre tantos outros de pessoas que precisam encarar tal realidade. Por isso que o plano ousado de roubar do banco para pagar o banco, por mais errado que seja, desperta no público um sentimento de identificação e torcida pelos personagens.

A direção de David Mackenzie juntamente com o roteiro são hábeis na construção do núcleo de cada personagem, seja dos protagonistas ou do delegado e seu parceiro de trabalho. “A Qualquer Custo” não é um filme de ação. Cada resolução foge do habitual e o longa possui um espírito de faroeste, a história carrega muito das tramas de vingança aos vilões opressores dos clássicos filmes do gênero, a diferença é que aqui temos uma realidade crível e identificável com a atualidade norte-americana. O assunto é moderno, angustiante e, infelizmente, muito real.

Chris Pine e Ben Foster encarnam, respectivamente, Tobby e Tenner. Pine surpreende com uma sensibilidade notável, e uma química ótima com seu colega de elenco Foster. Bridges faz o tipo clássico do delegado durão e sarcástico, mas se beneficia com um roteiro centrado e bem escrito, o que lhe ajuda a fugir da caricatura.

Se “A Qualquer Custo” foi uma grata surpresa nas premiações deste começo de ano, como filme causa o mesmo efeito. É um drama sólido, consistente em sua narrativa e que tem muito a dizer sobre um lado dos EUA pouco visto por nós estrangeiros. Merece nossa atenção! Recomendado!

Hell or High Water-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: David Mackenzie

Elenco: Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges

Sinopse: Dois irmãos, um ex-presidiário e um pai divorciado com dois filhos, perderam a fazenda da família em West Texas e decidem assaltar um banco como uma chance de se reestabelecerem financeiramente. Só que no caminho, a dupla se cruza com um delegado, que tudo fará para capturá-los.

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Frontier – 1ª temporada

O novo projeto original da Netflix é o primeiro em parceria com o canal Discovery do Canadá e traz um universo interessante do violento e lucrativo comércio de peles que acontecia nas fronteiras entre Estados Unidos e Canadá por volta de 1600-1700. O filme “O Regresso”, com Leonardo DiCaprio, já tinha como pano de fundo este que era um mundo instável cercado por interesses, com membros de várias nacionalidades em luta para defender o próprio negócio e se manter vivos e operantes em um território hostil, marcado por confrontos sangrentos entre índios, norte-americanos, ingleses, franceses e canadenses. Era o Novo Mundo.

“Frontier” usa esta realidade do período como pano de fundo para criar uma série que vai lidar, basicamente, com diversos personagens que irão buscar crescer comercialmente e manter os próprios interesses. É um jogo político, movido por negociações, violência e retaliação.

No entanto, a grande decepção de “Frontier” é desperdiçar tudo o que há de mais interessante na história para se manter em uma zona de conforto e nunca seguir em frente com os conflitos dos personagens. O lado das negociações e atritos entre os diferentes grupos de comércio são relegados a segundo plano para dar lugar a uma trama de vingança das mais clichês e batidas entre o protagonista Declan Hard (Jason Momoa), um violento comerciante de peles, e o comandante do Forte James, o traiçoeiro inglês Lord Benton (Alun Armstrong).

Cada núcleo de personagem nunca se desenvolve com fluidez e sempre anda em círculos. Não saímos do lugar. Durante seis episódios a série se preocupa mais em deixar tudo solto para uma possível segunda temporada, do que resolver certos conflitos e levar a trama adiante. Um completo desperdício de quase seis horas de duração que se assistidas em maratona só torna mais evidente a falta de escopo e desenvolvimento do roteiro.

“Frontier” começa muito bem, com violência e na promessa de ser um ótimo exemplar épico, mas, infelizmente, se perde pelo caminho e joga o ótimo material em mãos pelos ares para fazer mais do mesmo e sem nenhum momento visualmente instigante ou memorável. Uma pena.

Frontier-EUA

Número de episódios: 06

Elenco: Jason Momoa, Landon Liboiron, Zoe Boyle

Sinopse: Diversos jogadores se envolvem no comércio de peles da fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos. O mercado no qual discussões de negócios costumam acabar em machadadas, ainda entrará em conflito com povos nativos, ás custas de muitas vidas de ambos os lados.

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Até o Último Homem

Apesar de todos os ataques de nervosismo e problemas judiciais  de Mel Gibson anos atrás, nunca deixei de ser fã e apreciador do seu trabalho. Vida pessoal é problema dele, já como profissional eu tenho o direito de opinar se gosto ou não. Afinal, quem nunca errou na vida que atire a primeira pedra. E além de ser um ótimo ator que foi se aperfeiçoando com os anos, Gibson se mostrou em 1995 um diretor de estilo, ritmo e domínio narrativo com o clássico épico “Coração Valente”. Desde então, dirigiu apenas mais três filmes e em cada projeto mescla violência e uma jornada heroica com temas centrais de sua crença, sendo a fé, principalmente, a mais importante delas.

Fé significa acreditar em algo como verdade sem necessitar de provas, e agir na certeza de que aquilo que acreditamos irá se concretizar. Não está relacionado unicamente a religião, ainda que ambas sejam constantemente unidas. Mas dormir e acreditar que irá acordar no dia seguinte é fé. Quem garante que vou acordar? E nos filmes de Gibson como diretor, cada protagonista compartilha desta visão de um objetivo a ser alcançado e do quão importante é chegar até ele.

O filme conta a história real de Desmond Doss, que se recusou a usar qualquer tipo de arma de fogo durante a Segunda Guerra Mundial. Ele se alistou com o intuito de servir a nação e salvar o máximo de homens possíveis como médico, mas nunca tocar numa arma. Doss não era médico, não entendia de medicina, mas ingressou pois só assim conseguiria ser admitido pelo Exército.

A história de Doss ajuda bastante o cinema a criar cenas apoteóticas que trabalham as emoções e ajudam a tocar fundo no coração do público. Os roteiristas Robert Schenkkan e Andrew Knight fazem o dever de casa com louvor, e dividem a história em três atos que colaboram na ascensão da emoção. O primeiro ato serve para criar nossa identificação com o protagonista e estabelecer suas crenças e ideologias. O segundo ato se passa durante o treinamento militar e a luta de Doss para ser aceito pelo Exército dos EUA e entrar na guerra sem portar armas. E o ato final é o grande clímax na guerra, durante a Batalha de Okinawa, quando os soldados norte-americanos sobem no cume conhecido como Hacksaw para lutar contra os japoneses. O roteiro é um padrão feito com estilo e qualidade, o que ajuda a direção de Gibson a deixar o filme ainda mais interessante.

Além da guerra e da linda história de salvamento, cuja essência é justamente a importância e necessidade da fé, a história de Doss lembra bastante a trajetória de Jesus Cristo, que Gibson também contou em “A Paixão de Cristo”, e explorou com veemência a fé como coluna central da plenitude humana. Além de ter em comum a fidelidade em um ideal, Jesus e Desmond também foram duas pessoas perseguidas e que sofreram por defender um pensamento.

O último filme de Gibson como diretor foi há dez anos com “Apocalypto”, em 2006. Seu retorno ao posto não só traz um diretor que continua a mostrar pleno domínio narrativo, como também um excelente olhar para filmar ação de um jeito imersivo, violento e cheio de impacto. As sequências de batalha são viscerais, violentas, sujas e sem dosagem visual. Gibson mostra o sangue, os corpos mutilados enquanto a câmera passeia e capta as nuances de cada um desses momentos.

Andrew Garfield interpreta Desmond Doss e faz aqui, até o momento, a melhor atuação de sua carreira. É um filme que exige bastante, não só fisicamente como emocionalmente, e Garfield é um ator que dosa bem as emoções e possui um carisma essencial para nossa identificação com o personagem. E não é de agora que Garfield vem se mostrando um dos melhores atores da atualidade, em projetos como “99 Casas”, “A Rede Social” e no inédito “Silêncio”, de Martin Scorsese, ele está igualmente brilhante.

“Até o Último Homem” é uma experiência cinematográfica inesquecível e digna de ser assistida na tela grande. Além, claro, como já dito, de ter ensinamentos memoráveis sobre valores e crenças que falaram bastante comigo. Mel Gibson é definitivamente perdoado pelo passado – as 6 indicações ao Oscar 2017, incluindo Melhor Filme e Diretor não me deixam exagerar – e volta com tudo ao time A de Hollywood. Só depende dele se manter lá em cima agora. E que não demore muitos anos para dirigir novamente, pois se Mel Gibson como ator já vale a pena,  como diretor é ainda melhor. Que venha o próximo filmaço!

Hacksaw Ridge-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: Mel Gibson

Elenco: Andrew Garfield, Vince Vaughn, Sam Warthington

Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, o médico do exército Desmond T. Doss (Abdrew Garfield) se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas, porém, durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica e salva mais de 75 homens, sendo condecorado. O que faz de Doss o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana a receber a Medalha de Honra do Congresso.

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Max Steel

Max Steel começou como uma série de produtos da Mattel em 1998, migrou para os desenhos e agora recebe sua primeira adaptação para o cinema. Não era muito de assistir o desenho, particularmente não me chamava atenção, porém, ainda assim, é claramente perceptível um senso de aventura que este filme insosso não demonstra em nenhum momento.

Tudo nesta adaptação para o cinema de Max Steel é errada. Desde o tom do filme, passando pelos atores até chegar na maneira de contar a história do diretor Stewart Hendler, com um estilo de direção introspectivo que mais tem cara daqueles dramas independentes do que realmente de um filme de ação. E claro, o pior erro de todos: a falta de aventura.

Max Steel é um garoto com poderes, um super herói, mas o diretor Stewart Hendler não entende isso e gasta praticamente o filme todo desenvolvendo a origem do personagem mas sem as nuances e características que faça o público embarcar na aventura – assista “Homem Aranha”, “Homem de Ferro” ou “Batman Begins” e vai estudar poxa vida!

Tudo em “Max Steel” é muito novela, a fotografia não tem brilho, este garoto que chamaram para ser protagonista é horrível e sem carisma e não temos nada, nada, nada de ação. Ela só é relegada para o ato final em um embate grotesco de tão mal filmado com um dos vilões mais esquecíveis e sem graça dos últimos anos.

Resumindo: “Max Steel” não consegue nem ser um “Power Rangers”. Não consegue ter diversão, ritmo ou empolgação. Daí justifica o fracasso de bilheteria nos EUA e um lançamento tímido aqui Brasil. Não importa se a história possuí todos os elementos clichês do garoto que perdeu o pai em um acidente na empresa onde trabalhava, e este acidente tem relação com o sócio vilanesco que possui um interesse por trás disso tudo. A Marvel sempre repete sua fórmula, mas consegue em cada projeto criar um filme super divertido com personagens memoráveis. A questão é: desde que o clichê seja bem contado dentro da proposta do filme, tá valendo!

“Max Steel” é uma adaptação de um desenho de super-herói, e o filme pouco investe nisso e em nenhum momento cria algo divertido, nem mesmo para crianças pequenas. Um marasmo total! Sem dúvida alguma é um dos piores filmes do ano e uma dessas bombas para se passar longe. Muito longe mesmo!

Max Steel-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: Stewart Hendler

Elenco: Ben Winchell, Maria Belo, Andy Garcia

Sinopse: Max (Ben Winchell) é um adolescente de 16 anos que, como todas as pessoas da sua idade, está passando por um período de descobertas. Entretanto, as transformações na vida do jovem estão relacionadas aos incríveis poderes que ele descobre ter quando entra em contato com uma força extraterrestre.

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Manchester à Beira-Mar

“Manchester à Beira-Mar” não é aquele drama com cenas belíssimas e uma música crescente ao fundo que está desesperado para te fazer chorar. Ao menos não em seu exterior. É um filme que te quebra por dentro, através da sutileza e do silêncio. É um filme de nuances, de sentimentos retraídos, amarguras escondidas lá no fundo do coração que cada personagem precisa lidar.

Ao mesmo tempo em que traz esperança para cada um dos problemáticos personagens, principalmente entre Lee Chandler (Casey Affleck) e seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges), o diretor Kenneth Lonergan mantém a emoção contida e o ritmo passivo, e é justamente esta decisão que torna “Manchester à Beira Mar” tão melancólico e arrasador.

Algo aconteceu com Lee Chandler para ele ser um homem tão retraído, silencioso e sempre grosseiro quando abre a boca. O filme intercala o presente com a vida de Lee antes, e o que aconteceu para ele ter se tornado o homem que se tornou. No presente seu irmão Joe Chandler morre e ele precisa cuidar do sobrinho adolescente Patrick, de apenas 16 anos, e que vive uma vida agitada com duas namoradas, banda, jogos de hóquei e por aí vai.

Aparentemente “Manchester à Beira Mar” parece aqueles filmes com cenas de superação e aprendizado onde cada personagem irá aprender com o outro e ser uma pessoa melhor. Pelo contrário! O roteiro, também de Lonergan, foge de resoluções clichês para tipos de situações assim. Manter o pé no chão é ao mesmo tempo manter a vida tal qual ela é. Apesar de entender que cinema é trabalhar com emoções e gostar de alguns filmes onde as manipulações da emoção são válidas, aqui nós temos um típico exemplo que ensina a trabalhar com o silêncio e os diálogos sem precisar ser chato, verborrágico demais e cansativo. As emoções elas existem pelo peso das consequências apresentadas na história, e a importância de ser maduro e equilibrado para aceitar os erros, e saber viver com eles, é essencial para nosso amadurecimento.

E ainda assim, Lonergan consegue criar um filme ao mesmo tempo melancólico e devastador emocionalmente, porém, cheio de esperança e otimismo onde, apesar das decepções e tragédias da vida, existe um caminho e uma oportunidade para esses personagens serem felizes. Isto é tão sentido justamente por ser algo tão presente na vida de qualquer ser humano. “Manchester à Beira-Mar” se aproxima mais da vida, às vezes sem graça mas a vida, do que com alguns dramas sentimentais cheios de reviravoltas excessivamente melancólicas. Repito: gosto de ambos os estilos, e “Manchester” executa com maestria o que propõe.

A direção de atores é também outro ponto magistral da obra, e só ressalta a competência de Lonergan. Casey Affleck concentra cada peso existencial, sentimental e angústia de seu personagem nos olhares e na maneira de falar e andar. Ele não têm uma cena de explosão com gritos e descontrole emocional, pois justamente o seu Lee Chandler já não vê mais graça e necessidade para tal. É um homem que se condenou a viver daquele jeito, e Affleck passa esta solidão emocional do personagem com tanta entrega que não é à toa ser o favorito para levar o Oscar de Melhor Ator este ano.

Assistindo ao filme fiquei, do mesmo modo, surpreso com a atuação de Lucas Hedges, como o sobrinho Patrick. Apesar de não ter aparecido na maioria das premiações senti que o Oscar não iria cometer a mesma injustiça pois a atuação do garoto é muito boa. E assim que saíram os indicados minha intuição estava certa. Outra que também recebeu indicação merecidamente, agora de Melhor Atriz Coadjuvante, foi Michelle Williams com uma interpretação precisa e uma das melhores da sua carreira.

“Manchester à Beira-Mar” é um filmaço que merece nova revisão. Sem apelos sentimentais forçados ou saídas comuns, o longa é tão próximo da realidade, e de como lidamos muitas vezes com nossos sentimentos e tragédias pessoais, que é sem dúvida um drama tocante e por vezes devastador. Um dos melhores filmes lançados este ano até agora. Vale a pena!

Manchester by the Sea-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: Kenneth Lonergan

Elenco: Casey Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams

Sinopse: Lee Chandler (Casey Affleck) é forçado a retornar para sua cidade natal com o objetivo de tomar conta de seu sobrinho adolescente após o pai (Kyle Chandler) do rapaz, seu irmão, falecer precocemente. Este retorno ficará ainda mais complicado quando Lee precisar enfrentar as razões que o fizeram ir embora e deixar sua família para trás, anos antes.

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Sherlock – 4ª temporada

O hit da BBC, “Sherlock”, volta com uma quarta temporada que promete ser a última da série. Ao menos até segunda ordem, já que com a carreira crescente de Benedict Cumberbatch, tempo será o principal motivo. Mas por um lado é bom descansar o seriado por alguns anos e quem sabe voltar com aquele sentimento de saudade que ajuda a deixar as coisas mais gostosas.

“Sherlock” foi uma baita surpresa quando saiu em 2010 numa adaptação fiel ao espírito dos livros de Sir Arhur Conan Doyle com os personagens adaptados no mundo atual. Nas duas primeiras temporadas os mistérios eram empolgantes, a narrativa frenética e o humor sutil ajudava na imersão e o mais importante: nos importávamos e muito com os personagens.

No entanto, particularmente, acredito que o barco começou a naufragar no final da terceira temporada. Primeiro: o uso excessivo da volta de personagens mortos tira toda a tensão e imprevisibilidade da série. É como a Marvel no cinema. Mata mas não mata, e no fim, a credibilidade acerca do peso das consequências vai pelos ares. Em “Sherlock”, ainda que personagens importantes são mortos, a trama sempre busca trazê-los de volta em justificativas forçadas, como se eles soubessem do futuro e tivessem previsto a própria morte, e com isso, gravam vários vídeos ditando o que os personagens devem fazer no presente. Não cola.

E nesta última temporada, principalmente, já que é até o momento a última, os criadores Mark Gatiss e Steven Moffat resolvem criar uma história estritamente pessoal que liga os pontos do passado de Sherlock com seu irmão Mycroft e outra personagem muito importante para os dois. A necessidade de trazer humanidade para o protagonista, e mostrar que Sherlock é um sujeito capaz de amar tira um pouco daquele humor ácido da série e descaracteriza de certa maneira o próprio personagem, que foge do contexto pelo qual o mundo inteiro é apaixonado por Sherlock, desde os livros, que é: ser um sociopata, viciado, arrogante, mas ao mesmo tempo super inteligente e cheio de sarcasmo. São características fundamentadas desde a criação do mesmo, e se o mais interessante é colocá-lo de frente com mistérios aparentemente não solucionáveis, ao mesmo tempo em que você pode sim desenvolver suas relações com aqueles ao seu redor, porque raios de diminuir isso para transformar Sherlock em um fantoche emocional? Tira todo o brilho da série.

Eu prefiro me restringir às duas primeiras temporadas de “Sherlock’, e me divertir com esses personagens incríveis que ganharam uma adaptação repaginada para o mundo atual, mas cheia de fidelidade ao material original e dinamismo. O que vêm depois, infelizmente, vai perdendo o encanto e indo em direções erradas. Não deixa de ser uma série muito bem produzida com atuações ótimas do elenco, acima de tudo de Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, mas uma andorinha não faz verão, não é mesmo?

Sherlock-Season 4

Ano: 2017

Número de episódios: 03

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Tá Dando Onda 2 e Barry | Duplex

TÁ DANDO ONDA 2

ta-dando-onda-2

O primeiro filme lançado em 2007, e indicado ao Oscar de Melhor Animação na época, é pura criatividade e bastante divertido. Particularmente, o formato documentário ajudava no charme da animação, que também possui uma história simples mas atraente e bem contada. Já está continuação aparece do nada com pouquíssima repercussão, lançada diretamente para o mercado de home vídeo, e não possui o cuidado narrativo e visual do original. É para crianças bem pequenas apenas, com aquela cara de seriado televisivo. A história repete muita coisa do filme anterior mas sem o dinamismo, o espírito de aventura e o humor afiado do primeiro. Fica arrastado, cansativo e nenhum personagem se destaca.

Surf´s Up 2 – Wave Mania/EUA

Ano: 2017 – Dirigido por: Henry Yu

Vozes no original: John Cena, Jeremy Shada, Diedrich Bader

Sinopse: O pinguim surfista Cadu Maverick está de volta, em busca de novas aventuras. Quando o famoso grupo de marombados Hang 5 surge na na ilha Pen-Gu e oferece as direções do pico mais lendário – e perigoso – do planeta, Cadu e seus amigos não hesitam em aceitar o desafio.

BARRY

barry-filme

“Barry” conta a trajetória de Barack Obama quando este se mudou para Nova York e começou os estudos e também do seu relacionamento com Charlotte. O filme trilha sua trajetória de luta contra o racismo e as dificuldades na relação. O projeto é original da Netflix, e apesar de ser um filme bem equilibrado dramaticamente, “Barry” carece de certa ousadia e momentos marcantes. É mais do mesmo e não há um diferencial que faça de “Barry” uma biografia marcante do ex-presidente dos EUA. É aquele filme chapa branca que se mantém na zona de conforto. Bom de ver, mas esquecível. 

Barry-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: Vikram Gandhi

Elenco: Devon Terrell, Anya Taylor-Joy, Jason Mitchell

Sinopse: 1981. O jovem Barack Obama (Devon Terrell), então conhecido como Barry, chega a Nova York para começar seus estudos na Universidade de Columbia e tenta encontrar o seu lugar no mundo – e na faculdade – entre conflitos sociais, questões raciais e problemas familiares.

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Desventuras em Série | o filme e a série

“Desventuras em Série” é uma série de livros de aventura e fantasia com um total de 13 obras publicadas escritas pelo norte-americano Daniel Handler sob o pseudônimo Lemony Snicket. Já tivemos uma adaptação dos três primeiros capítulos no filme homônimo de 2004 estrelado por Jim Carrey, que infelizmente não foi bem de bilheteria e ficou por isto mesmo. Após quatorze anos, os livros voltam a receber uma nova adaptação, agora em formato de série com a Netflix responsável pela produção. A primeira temporada possui 8 capítulos e a cada dois episódios um livro é adaptado, resultando em um total de quatro livros neste primeiro ano.

É covardia criticar negativamente o filme afirmando que a adaptação foi rápida e passa muito ligeira por cada acontecimento dos livros. Apesar de não ser mentira tal afirmativa, precisamos entender a realidade do cinema. São ao todo 13 livros, e “Desventuras em Série” não é um sucesso garantido como, por exemplo, Harry Potter. Nem possui as mesmas proporções de repercussão. É óbvio que nunca fariam 13 filmes, portanto, resolveram adaptar os três primeiros livros em um único longa metragem e priorizar os momentos chaves de cada trama.

Particularmente, considero a adaptação para o cinema excelente, e como bem diz o termo, foi uma ADAPTAÇÃO respeitosa ao material original que mantém fielmente o clímax de cada livro, ainda que tenha suas liberdades naturais de uma transição de mídia. Mas no geral, é uma aventura divertida, com uma estética gótica, sombria e ao mesmo tempo leve justamente por causa do humor negro e irônico. Pontos aqui para Jim Carrey, mas logo comento mais sobre ele.

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Conde Olaf, Violet Baudelaire e Klaus Baudelaire no filme “Desventuras em Série”

Falando agora da série da Netflix, a liberdade de tempo é muito maior aqui. São oito capítulos com quase uma hora cada, e cada livro recebe duas horas para ser adaptado com detalhes e folga, ou seja, comparar com o filme, repito, é sacanagem. A nova adaptação comandada por Barry Sonnenfeld, diretor de filmes como “A Família Adams” e “MIB – Homens de Preto” e que dirigiu vários episódios aqui, além de ser produtor executivo, mantém o clima de fantasia anacrônica das obras de Daniel Handler, com uma ambientação esteticamente antiga, mas repleta de piadas e ferramentas modernas. E isto, diga-se de passagem, é parte da graça deste universo e a série mantém, e até eleva, cada característica dele.

Com maior tempo para desenvolver a história, além dos protagonistas, os coadjuvantes ganham mais desenvolvimento, principalmente quando se trata da relação deles com as crianças e o Conde Olaf. Explicações sobre as motivações e resoluções do passado dos irmãos Baudelaire são aprofundados, e respondem muitas perguntas para quem só tinha o filme como base.

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Sr. Poe, juíza Strauss e os irmãos Klaus, Violet e Sunny Baudelaire na série “Desventuras em Série” da Netflix

Ambas as adaptações usam o humor caricato, mas cada uma de um jeito bem distinto. Enquanto o filme aposta na fisicalidade de Jim Carrey, e em sua teatralidade caricatural que caiu como luva para o personagem – e mesmo no humor físico Carrey está bem contido em relação ao seu histórico profissional – a série mantém a caricatura, mas injeta um humor pastelão que torna os acontecimentos um cômico cartunesco surtado, e não um cômico trágico sombrio como na versão para o cinema. Particularmente, neste quesito prefiro o filme, já que as características da série deixam muitos momentos cansativos e alguns personagens irritantes – como o insuportável banqueiro Sr. Poe e a esposa, por exemplo. 

Aliás, entramos em outra questão: fidelidade. Sim, a série é mais fiel aos livros do que o filme, afinal, como já disse, tem mais tempo para isso. Porém, é perceptível que em certo momento a história cai numa repetição exaustiva, e a sensação é que as resoluções se estendem além do necessário para colocar mais comédia. Talvez no livro seja agradável por ser o leitor responsável por criar o mundo em sua mente, e ser o diretor da história, já no audiovisual fica arrastado, e com isso o filme pode se beneficiar com a pouca duração, já que com ela precisa enxugar e criar uma história sucinta e sem rodeios. E vamos ser sinceros, muita coisa na série é pura enrolação, principalmente quando se trata do Conde Olaf perseguindo as crianças. Isto só prova que o filme foi feliz em enxugar o excesso e priorizar o objetivo de cada passagem da história. O problema do filme é ter desenvolvido pouco a trama dos irmãos Baudelaire, já que são eles os protagonistas da história. 

JIM CARREY ou NEIL PATRICK HARRIS?

Bem, Jim Carrey é uma lenda viva, um gênio da comédia e já se provou um excelente ator em filmes que passam longe da comédia. Neil Patrick Harris é um ator mais limitado, mas é super carismático, dança que é uma beleza, canta muito bem e tem excelente time cômico – vide sua atuação na série “How I Met Your Mother” como o mulherengo Barney, que é o meu personagem favorito no show. 

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Jim Carrey como Conde Olaf

O personagem Conde Olaf, nas histórias, é um péssimo ator de teatro que faz de tudo para conseguir a herança dos irmãos Baudelaire. A sua construção, por si só, já é caricata e é justamente essa caricatura, esta personalidade egocêntrica e ridícula do personagem que reside o humor negro da obra e a vilania do papel.

Jim Carrey é favorecido pela elasticidade e ótima fisicalidade, o que impede da maquiagem de prejudicar as suas expressões. Diferente de Neil que é constantemente prejudicado quando está com a maquiagem de Conde Olaf, o que deixa sua atuação muitas vezes engessada e pouco convincente.

Carrey usa suas expressões físicas e corporais típicas da carreira, mas mantém equilíbrio. O próprio visual do filme, junto com a aparência sinistra do personagem, deixam Carrey nefasto, grotesco e repudiante. Mas não menos divertido e envolvente. Já a série vai no caminho do humor pastelão, e Neil cria um Olaf cartunesco que segue uma linha diferente do filme, o que é algo bom. Afinal, imitar Jim Carrey nunca daria certo.

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Neil Patrick Harris como Conde Olaf


E Neil vai se soltando com o desenrolar da série e rapidamente a rouba toda para si. Quando se transforma de personagem, usa tal oportunidade para abusar da caricatura e deste estilo insano do seu personagem, que parece saído de um desenho animado.

Mas no geral, mesmo gostando de ambos, fico com Jim Carrey que foi mais convincente como Conde Olaf. O ator conseguiu ser cômico, mas ao mesmo tempo sinistro e vilanesco de verdade. Você sente isso. Algo que não consegui sentir nas atitudes do Olaf de Neil Patrick Harris. Que fica só no engraçado. 

VISUAL

Falei rapidamente do visual no começo, e também prefiro o visual do filme que me transmite uma sensação de angústia muito maior. A série mescla um estilo Wes Anderson com um Tim Burton bem tímido, e o resultado muitas vezes é falso, com efeitos capengas e cenários que passam pouquíssima convicção. 

O diretor do filme, Brad Silberling, criou cenas visualmente lindas como, por exemplo, a cena de abertura na praia, ou a sequência no Lago das Sanguessugas ou mesmo as cenas dentro da mansão do Conde Olaf. A posição da câmera e o contraste de cor dos cenários também colaboram para solidificar a história triste e angustiante das crianças protagonistas. Um momento que nunca esqueço é na parte onde Jim Carrey esta fingindo ler um jornal, quando espera o trem bater no carro com as crianças (!), e na capa do jornal está uma foto enorme do ator Lon Chaney caracterizado como o Fantasma da Ópera do clássico filme de 1925, e ele em seguida abaixa o jornal surgindo em sequência ao rosto de Lon Chaney o rosto do Conde Olaf, exemplificando a crueldade do personagem. Uma sacada sutil, completamente visual e bem original (veja foto abaixo).

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Jim Carrey como Conde Olaf em cena do filme “Desventuras em Série” (2004)

Infelizmente, a série é desprovida de momentos assim e ainda abusa de um CGI falso nada sutil. 

A segunda temporada já está confirmada e apesar dos pesares, ao menos os livros de Handler, para satisfazer os fãs, estão recebendo toda a atenção necessária. 

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La La Land – Cantando Estações

O gênero musical no cinema está enraizado na cultura norte-americana desde o início da indústria cinematográfica nas terras do tio Sam. Foram eles que começaram e ainda cultivam este gênero cuja fantasia de colocar pessoas cantando e dançando serve para expressar um desejo humano de fugir dos problemas cotidianos, ou enfrentar tais revezes, utilizando a música como ferramenta de desabafo da alma.

Ao longo dos anos, os filmes musicais nunca deixaram de existir em Hollywood. E se o tempo mudou e o cinema também, os musicais foram se adaptando aos novos moldes de público e gosto. Mas nunca sumiram, seja no teatro com a Broadway, ou no próprio cinema.

“La La Land” resgata a nostalgia da era de ouro dos musicais, quando atores como Gene Kelly, Fred Astaire, Ginger Rogers, Judy Garland, Julie Andrews e inúmeros outros artistas fizeram seus respectivos nomes no cinema dentro do formato que originou clássicos atemporais como “Cantando na Chuva”, “O Mágico de Oz”, “Minha Bela Dama”, “A Noviça Rebelde”, “Mary Poppins” e “Amor Sublime Amor”, por exemplo.

Mas “La La Land” surpreende por conseguir ir além da homenagem e do mero musical. Sim, a música existe e ela é importante para o contexto da obra, porém, o diretor Damien Chazelle – do excepcional “Whiplash – Em Busca da Perfeição” – e também responsável pelo roteiro, não utiliza a música como obrigação por se tratar de um musical, mas a usa como apoio narrativo, e emocional, sempre em momentos oportunos e de forma comedida.

O filme tem pouquíssimas sequências musicais, a grande maioria durante a primeira metade da história, e depois acabam. E quando acontecem, elas não interferem no andamento da história, pelo contrário, ajudam a contá-la e deixar o filme mais poético, lúdico e sensível. O roteiro prioriza os personagens e seus conflitos.

Desde a abertura, “La La Land” é um filme que fala do sonho de se trabalhar com cinema e desta cultura tão vívida e presente na cidade que mais respira a sétima arte: Los Angeles. Primeiro, conhecemos Mia (Emma Stone), uma garota que trabalha como atendente em uma cafeteria e que aspira ser uma atriz de cinema. Depois conhecemos Sebastian (Ryan Gosling), um músico sem trabalho fixo que sonha em ser dono de um clube de jazz.

Com dois protagonistas distintos e apaixonados, “La La Land” vai falar de sonhos, e como o caminho para alcançá-los é árduo e cheio de sacrifícios. Mesmo sem criar uma história original em suas temáticas, Chazelle acerta ao contá-la com originalidade fugindo de resoluções fáceis e clichês, e longe do drama novelesco e forçado. A trama é desenvolvida com maturidade, sensibilidade e sutileza, e no fim, temos uma história de amor emocionante por ser real, e que nos mostra a importância, e o peso, das nossas escolhas nesta existência que chamamos de vida.

A escolha de Ryan Gosling e Emma Stone é perfeita. A química já comprovada em outro filme chamado “Amor A Toda Prova” possui uma importância muito maior e significativa aqui. O jeito “malandro” de conversar e andar de Gosling, mesclado com a pureza e beleza de Stone, faz do casal Mia e Sebastian um dos melhores dos últimos anos. Nós torcemos por eles, queremos vê-los juntos, e isso é fundamental na trajetória de cada um, seja individual ou juntos.

Damien Chazelle cria ao mesmo tempo uma homenagem poética aos clássicos musicais da era de ouro de Hollywood, como também faz um filme que não se sustenta em tais homenagens, mas foca nos dilemas e conflitos dentro da relação dos protagonistas, de um jeito que leva o público numa jornada de amor emocionante, lírica e inesquecível, onde o lado musical vira mero coadjuvante.

O resultado? Um filme para se guardar no coração e digno de todos os prêmios e elogios que vêm recebendo. É o favorito para ganhar o Oscar de Melhor Filme este ano e quer saber? Merece mesmo! Precisamos de mais obras assim, recheadas de pureza, encanto, poesia e cenas repletas de significado. Ao menos para mim, “La La Land – Cantando Estações” já é um clássico absoluto!

La La Land-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: Damien Chazelle

Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, J. K Simmons

Sinopse: Ao chegar em Los Angeles o pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling) conhece a atriz iniciante Mia (Emma Stone) e os dois se apaixonam perdidamente. Em busca de oportunidades para suas carreiras na competitiva cidade, os jovens tentam fazer o relacionamento amoroso dar certo enquanto perseguem fama e sucesso.

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Moana – Um Mar de Aventuras

A Disney entendeu que as princesas mudaram. A nova geração traz consigo a imagem da mulher independente desgarrada de qualquer pré-conceito social e pronta para sair da zona de conforto e lutar pelos seus sonhos. Se o cinema hoje tem criado personagens femininas destemidas e decididas, as novas princesas da Disney são peças fundamentais para a formação desse atual pensamento da cultura ocidental. A Rapunzel de “Enrolados”, Tiana de “A Princesa e o Sapo”, Elsa e Anna de “Frozen” e agora Moana, todas elas compartilham projetos que se enquadram na jornada clássica do herói, e compartilham atitudes que fogem da dependência mútua de algum fator externo. Os problemas que precisam ser superados, principalmente, começam delas e dependem exclusivamente delas. Os tempos são outros, e as princesas também. Felizmente.

Na história, Moana Waialiki é filha de um chefe de uma tribo da Oceania e desde criança seu pai a proibiu de se aventurar no mar. Mas Moana é destemida, curiosa, e após uma maldição ter sido liberada no mundo quando, anos antes, o semideus Maui roubou uma pedra preciosa de uma deusa, e trouxe morte gradativa para toda a natureza, Moana parte numa aventura em mar aberto para encontrar Maui, que está exilado, e impedir que a destruição continue e chegue até a sua aldeia.

Em “Moana” temos a primeira princesa polinésia do estúdio, e mais uma história onde o tema central não envolve um interesse amoroso, mas uma jornada de autodescobrimento em paralelo com uma missão de salvamento. Os temas centrais como: “seja você”, “lute pelos seus sonhos” e outros relacionados são chavões ao longo da história, e cada um é inserido dentro de um contexto ao mesmo tempo mágico – o que é comum ao se tratar de Disney, principalmente – como também heroico com bastante aventura. Moana é a primeira princesa navegadora da Disney, o que já traz uma característica diferenciada para a personagem em relação às demais.

Dirigido por dois veteranos da Disney, John Musker e Ron Clements, dupla responsável pelos clássicos “A Pequena Sereia” e “Aladdim”, em “Moana” eles fazem a estreia na direção de uma animação completamente em 3D. Como já falaram em entrevistas, o filme foi uma experiência de aprendizado dentro deste formato todo digital, e como já fizeram com Ariel, outra princesa que já mostrou lá atrás ser muito além do seu tempo, com Moana tais características citadas no começo continuam a ser trabalhadas e atualizadas para a nova geração. Ambos também dirigiram “A Princesa e o Sapo”, ou seja, são dois sujeitos que entendem e sabem criar personagens femininas de destaque.

No entanto, infelizmente, entramos agora naquele chato “porém”. Apesar de “Moana” ser visualmente belíssimo e ter uma protagonista forte, confesso que esperava me encantar mais com o filme. O roteiro de Jared Bush, baseado numa história desenvolvida pelos próprios diretores, perde força com uma construção bagunçada e apressada dos conflitos do passado e presente da personagem título. Os elementos como um todo, apesar de básicos, nunca alcançam um momento de vislumbre ou impacto emocional como em “Enrolados” ou, principalmente, no sucesso “Frozen”.

A construção da mitologia de Maui, os deuses e o passado de Moana é superficialmente trabalhada e pouco aprofundada ao longo do filme. Perguntas ficam no ar e pouquíssima identificação é criada com o drama de cada personagem, ao menos foi o que senti. Não vibrei com Moana, ou Maui, e não me emocionei com a jornada de autodescobrimento.

Quem me conhece sabe que sou fã de musicais. A Disney é famosa por colocar momentos de cantoria nos filmes, principalmente nas obras de princesas. Mas será que é sempre necessário? Ao menos aqui em “Moana”, em minha opinião, as canções só atrapalham a experiência. Primeiro: quase todas as músicas não ajudam no andar da história, e o filme interrompe a narrativa para apresentar um momento musical que é muitas vezes banal, diga-se de passagem a sequência com o caranguejo gigante. Segundo: as músicas não encantam, não emocionam e passam longe de serem inesquecíveis. E terceiro: não gostei da dublagem brasileira cujas vozes pouco combinam com as personagens, e em nada colaboram nos momentos musicais.

“Moana – Um Mar de Aventuras”, entenda, não é ruim. Mas também não é arrebatador. É divertido, belo de se ver, com raras piadas que funcionam, mas no geral, é apenas um bom filme. Nada além. Ao meu ver é uma obra onde o mau desenvolvimento da narrativa deixa o filme pouco inspirador. Verei novamente em breve, e quem sabe na segunda vez a coisa melhora.

Moana-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: John Musker e Ron Clements

Vozes no original: Auli’i Cravalho, Dwayne Johnson, Rachel House

Sinopse: Moana Waialiki é uma corajosa jovem, filha do chefe de uma tribo na Oceania, vinda de uma longa linhagem de navegadores. Querendo descobrir mais sobre seu passado e ajudar a família, ela resolve partir em busca de seus ancestrais, habitantes de uma ilha mítica que ninguém sabe onde é. Acompanhada pelo lendário semideus Maui, Moana começa sua jornada em mar aberto, onde enfrenta terríveis criaturas marinhas e descobre histórias do submundo.