A Marvel Studios completa 10 anos de existência este ano. Tudo começou de maneira esforçada em 2008, sem muitas expectativas, mas cheio de esperança com o lançamento do primeiro filme: Homem de Ferro. Um personagem até então desconhecido do grande público, e cuja aposta não só era incerta, como representava todo o investimento da empresa. Caso fosse fracasso, os planos de construir um universo compartilhado cairiam por terra, e as portas provavelmente seriam fechadas. Mas, como bem sabemos, o resultado foi outro. “Homem de Ferro” foi aclamado por crítica e público, arrecadou milhões mundialmente e começou uma cultura que alastrou por toda Hollywood: criar universos unificados na telona. A Disney não deu bobeira e garantiu a compra de todo o conglomerado Marvel levando para debaixo de tuas asas, inclusive, o departamento de cinema. Com a compra, Marvel/Disney se consolidaram como a mais representativa, e lucrativa, máquina de fazer dinheiro da atualidade no entretenimento audiovisual.
Os filmes de super-heróis se tornaram um subgênero do cinema, e hoje, são os responsáveis por mover uma engrenagem que ainda busca em superproduções garantir a atenção, dividida, do público. Outro feito da Marvel Studios foi conseguir alcançar um patamar de confiabilidade que não engessa o investimento em personagens desconhecidos. “Guardiões da Galáxia” foi o abrir da porteira para não temer usar personagens antes considerados Classe C das revistas em quadrinhos. Com o cinema, e a harmônica orquestra criada pela empresa – onde cada elemento é colocado com planejamento e cuidado nos filmes -, a Marvel Studios ainda não amargou o gosto de um fracasso comercial, e seus filmes são o resultado de trabalho em equipe e disciplina.
Pantera Negra apareceu pela primeira em “Capitão América: Guerra Civil”, e já conseguiu se destacar em meio ao numeroso grupo de heróis. Após a excelente introdução no intitulado MCU (Marvel Cinematic Universe, ou, traduzido, Universo Cinematográfico da Marvel), agora é a vez do personagem receber a sua adaptação solo, cuja responsabilidade é consolidar a mitologia do herói no cerne popular ao se aprofundar em suas origens e cultura.
E se existe um personagem – destes já apresentados ao público – que se difere em cultura, e estilo, é o Pantera Negra. Com temática africana, o diretor Ryan Coogler – do excelente “Creed – Nascido Para Lutar” –, injeta com fervor sangue negro na produção e mergulha de cabeça nos estilos, tons e características da África para compor todo o universo do personagem. É uma mescla de modernidade, filme de super-herói e conceitos africanos que são visualmente belíssimos de assistir. As cores vivas, a música, o visual quente e arrebatador são trabalhos de produção notáveis, e importantes para estabelecer respeito, e relevância, aos negros na cultura do entretenimento. Mais de 90% da obra é composta por atores de raça negra, e a trama coloca a cultura africana como DNA primordial do filme. O resultado é uma obra que possui uma representatividade essencial, principalmente para um período de nossa história onde se debate, e defende, a necessidade da oportunidade para atores de diferentes etnias.
Mas se por um lado “Pantera Negra” carrega esta importante lição social, por outro, como filme de super-herói, e como proposta de diversão, a obra peca em aspectos que prejudicam a eficiência das intenções. Sim, as características da Marvel Studios continuam lá. É um filme nitidamente da empresa. Mas sua resolução erra ao estender em demasia os dramas, e investir pouco na aventura. Muito vai e vêm, conversa demais pra cá, conversa demais pra lá, e pouco exercício da ação. E quando sim, as cenas são fracas e sem nenhum grande momento envolvendo os personagens. Algo que prejudica seriamente o ritmo e nossa disposição ao desenrolar da narrativa.
A impressão deixada é que este “Pantera Negra” foi feito por encomenda, apenas para estabelecer em definitivo um personagem, mas sem muito esmero e cuidado. Cumprir tabela. A ação é genérica e sem criatividade, e há momentos vergonhosos onde se percebe, claramente, que os atores se encontram em frente a uma tela verde. Para um filme da Marvel Studios/Disney, cujo poder de investimento não é pequeno, são deslizes imperdoáveis.
Já o elenco é um acerto e tanto. Chadwick Boseman, desde “Guerra Civil”, já se provou carismático e imponente, características importantes para um personagem que além de herói, é também o rei de uma nação. Andy Serkis como o vilão Garra Sônica não tem muita oportunidade em cena, mas quando surge, Serkis se diverte desmedidamente e investe com gosto no jeito grotesco, e sarcástico, do personagem. Michael B. Jordan cresce aos poucos em tela, e dá conta do recado. Martin Freeman esbanja o imenso carisma habitual e é sempre bem vindo. E as mulheres, todas, estão excelentes e roubam completamente a cena. Desde a ótima Florence Kasumba até Lupita Nyong’o, Letitia Wright e a veterana Angela Bassett.
“Pantera Negra” não chega a ser um filme ruim. É o padrão Marvel onde se há uma expectativa pronta do que será visto. Por um lado, esta expectativa já equilibrada que existe pelos filmes do estúdio é ruim, afinal, vai chegar um momento em que o público vai querer algo diferente. Mas, por outro, é bom por não tornar a experiência desastrosa. O filme é agradável, tem seus momentos divertidos, mas em comparação com outros longas como “Capitão América: Soldado Invernal”, “Homem de Ferro”, “Doutor Estranho” e “Guardiões da Galáxia”, por exemplo, “Pantera Negra” está muito abaixo do potencial de envolver, entreter e divertir. Como já dito, o ritmo é inconstante, arrastado, e não há cenas de ação visualmente criativas e empolgantes. No geral, é um filme que cumpre sua obrigação empresarial, e de fundamentar um produto. Mas, particularmente, queria ter me divertido bem mais.
Black Panther-EUA
Ano: 2018 – Dirigido por: Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Andy Serkis, Florence Kasumba, Lupita Nyong’o…
Sinopse: Após a morte do rei T’Chaka (John Kani), o príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) retorna a Wakanda para a cerimônia de coroação. Nela são reunidas as cinco tribos que compõem o reino, sendo que uma delas, os Jabari, não apoia o atual governo. T’Challa logo recebe o apoio de Okoye (Danai Gurira), a chefe da guarda de Wakanda, da irmã Shuri (Laetitia Wright), que coordena a área tecnológica do reino, e também de Nakia (Lupita Nyong’o), a grande paixão do atual Pantera Negra, que não quer se tornar rainha. Juntos, eles estão à procura de Ulysses Klaue (Andy Serkis), que roubou de Wakanda um punhado de vibranium, alguns anos atrás.