Em tempos onde o poder religioso tem retornado com força no palanque político e sendo usado por muitos nomes poderosos para justificar o ódio, a violência, o racismo e outras questões nada dialogáveis com os verdadeiros ensinamentos de Jesus Cristo, o diretor Antonio Campos enfatiza bastante neste seu novo projeto, “O Diabo de Cada Dia”, o poder influente e manipulador da religião. A soberba e os atos intragáveis da raça humana em nome da “voz de Deus”.
O filme se passa em meados dos anos 60, logo quando os EUA vivia fervorosamente a Guerra do Vietnã (que começou em novembro de 1955 e durou até abril de 1975). Durante a última cena do longa, uma das falas do então presidente Lyndon B. Johnson ecoa do rádio dizendo que pretende aumentar o envio de soldados para a guerra e que os EUA não poderia ser derrotado pela força do braço ou qualquer poder maior.
De acordo com o filme de Campos, a maior força destrutiva é a que vem de dentro. De dentro de casa. Nada mais consumidor do que o poder hereditário desta violência internalizada capaz de corroer e cegar o homem, mas que, muitas vezes, é travestida de religião. De sinais divinos. De “a voz de Deus”.
Adaptado do livro “O Mal Nosso de Cada Dia” de Donald Ray Pollock, a história não acompanha apenas um personagem. O roteiro possui diversos núcleos que de um jeito ou de outro se cruzam ao longo do caminho. Muitos desses personagens encontram o destino final logo de imediato, e outros levam um pouco mais de tempo. Mas em quase todas as histórias a religião é poderosamente presente.
Alguns personagens soam sem muito propósito e outros um tanto quanto superficiais e a partir de certo momento o enredo torna-se previsíve. Algumas tramas são boas, e outras nem tanto, mas de modo geral, o filme resulta em um drama poderoso ao trabalhar um tema enraizado e fortemente presente em nosso cotidiano, e que moldou sempre o pensamento de muitos.
Tom Holland está ótimo e convence com o peso, e drama, de seu personagem. Robert Pattinson é um show, e um nojo, como o pastor de uma igreja. O elenco no geral merece elogios, formado por atores ótimos como Bill Skarsgard (o palhaço Pennywise de “It – A Coisa”), Sebastian Stan (o Soldado Invernal da Marvel), Harry Melling, Jason Clarke, Riley Leough, Haley Bennett, Eliza Scanlen e até Mia Wasikowska (a Alice do mundo das maravilhas de Tim Burton), que considero uma atriz bem sem graça, está bem e não compromete a qualidade da obra.
The Devil All The Time
Ano: 2020
País: EUA
Dirigido por: Antonio Campos
Elenco: Tom Holland, Robert Pattinson, Bill Skarsgård, Haley Bennett, Sebastian Stan…
Sinopse: Ambientada entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, O Diabo de Cada Dia acompanha diversos e bizarros personagens num canto esquecido de Ohio, nos Estados Unidos. Cada um deles foi afetado pelos efeitos da guerra de diferentes maneiras. Entre eles, um veterano de guerra perturbado, um casal de serial killers e um falso pregador.