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Crítica: O DIABO DE CADA DIA (The Devil All The Time) | Netflix

Em tempos onde o poder religioso tem retornado com força no palanque político e sendo usado por muitos nomes poderosos para justificar o ódio, a violência, o racismo e outras questões nada dialogáveis com os verdadeiros ensinamentos de Jesus Cristo, o diretor Antonio Campos enfatiza bastante neste seu novo projeto, “O Diabo de Cada Dia”, o poder influente e manipulador da religião. A soberba e os atos intragáveis da raça humana em nome da “voz de Deus”.

O filme se passa em meados dos anos 60, logo quando os EUA vivia fervorosamente a Guerra do Vietnã (que começou em novembro de 1955 e durou até abril de 1975). Durante a última cena do longa, uma das falas do então presidente Lyndon B. Johnson ecoa do rádio dizendo que pretende aumentar o envio de soldados para a guerra e que os EUA não poderia ser derrotado pela força do braço ou qualquer poder maior.

De acordo com o filme de Campos, a maior força destrutiva é a que vem de dentro. De dentro de casa. Nada mais consumidor do que o poder hereditário desta violência internalizada capaz de corroer e cegar o homem, mas que, muitas vezes, é travestida de religião. De sinais divinos. De “a voz de Deus”.

Adaptado do livro “O Mal Nosso de Cada Dia” de Donald Ray Pollock, a história não acompanha apenas um personagem. O roteiro possui diversos núcleos que de um jeito ou de outro se cruzam ao longo do caminho. Muitos desses personagens encontram o destino final logo de imediato, e outros levam um pouco mais de tempo. Mas em quase todas as histórias a religião é poderosamente presente.

Alguns personagens soam sem muito propósito e outros um tanto quanto superficiais e a partir de certo momento o enredo torna-se previsíve. Algumas tramas são boas, e outras nem tanto, mas de modo geral, o filme resulta em um drama poderoso ao trabalhar um tema enraizado e fortemente presente em nosso cotidiano, e que moldou sempre o pensamento de muitos. 

Tom Holland está ótimo e convence com o peso, e drama, de seu personagem. Robert Pattinson é um show, e um nojo, como o pastor de uma igreja. O elenco no geral merece elogios, formado por atores ótimos como Bill Skarsgard (o palhaço Pennywise de “It – A Coisa”), Sebastian Stan (o Soldado Invernal da Marvel), Harry Melling, Jason Clarke, Riley Leough, Haley Bennett, Eliza Scanlen e até Mia Wasikowska (a Alice do mundo das maravilhas de Tim Burton), que considero uma atriz bem sem graça, está bem e não compromete a qualidade da obra.

The Devil All The Time

Ano: 2020

País: EUA

Dirigido por: Antonio Campos

Elenco: Tom Holland, Robert Pattinson, Bill Skarsgård, Haley Bennett, Sebastian Stan

Sinopse: Ambientada entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, O Diabo de Cada Dia acompanha diversos e bizarros personagens num canto esquecido de Ohio, nos Estados Unidos. Cada um deles foi afetado pelos efeitos da guerra de diferentes maneiras. Entre eles, um veterano de guerra perturbado, um casal de serial killers e um falso pregador.

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Por que achei MULAN uma merda?

Quero deixar bem claro que fui assistir ao live-action “Mulan” já sabendo das diferenças com relação ao desenho clássico – apesar de achar as justificativas para tais escolhas ridículas. As músicas no desenho de 1998 contavam a história e são ótimas, e Mushu é o alívio cômico que tornava a animação mais fluída e envolvente. Portanto, confesso, senti falta disso, afinal, estamos falando da versão da Disney da lenda de Mulan.

Mas MULAN até como FILME ISOLADO é muito fraco. Vamos aos motivos que me fizeram não gostar deste novo live action da Disney já disponível no Disney+.

1) A direção da neozelandesa NIKI CARO é péssima. Caro já fez filmes ótimos, mas nenhum de ação ou com essa escala de Mulan. E aqui, ela mostra que não sabe filmar ação. As lutas e batalhas são filmadas de maneira bem convencional e clichê sem ter a beleza das lutas orientais. As lutas também não recebem uma bela coreografia, sem falar do mal da uso da câmera lenta, giros de câmera fora do lugar, cortes bruscos e frenéticos que atrapalham a fluidez, e beleza, das cenas.

2) O roteiro deixa de lado tudo que fazia do “Mulan” de 1998 relevante: a história de uma mulher aparentemente “convencional” criada pela família para ser esposa e dona de casa, porém, que se coloca fora de sua zona de conforto para salvar a vida do pai.

Já aqui, MULAN é guerreira desde criança. Ela é A escolhida. Ela tem o CHI – nome dado para o poder dos ancestrais e blá, blá, blá… Ou seja, Mulan virou um super-herói. Ela já é foda desde criança, vai para a guerra e esconde o seu lado guerreira para que os outros soldados não desconfiem. A história da mulher que supera as próprias limitações e mostra que é tão capaz, ou mais, do que qualquer outro homem vai para o ralo. Não temos mais isso neste filme pois a Mulan já é a excepcional Mulan. Se era para empoderar o desenho já faz isso muito melhor.

3) Resolveram tirar as músicas e o Mushu pois queriam um realismo maior para o longa. Ok. Mas daí colocaram uma BRUXA na parada? Sem falar que as músicas no desenho contavam a história de cada momento, mas aqui, eles não repõem isso com desenvolvimento de personagem. Tudo é rápido, superficial e banal.https://3744b668e64c04ddd28a5b06d0fbf7fd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

E não vou entrar no mérito das escolhas de roteiro com relação a Bruxa na parte final do filme. Não faz sentido com a personagem – pelo menos com o que foi mostrado até ali.

4) Desperdiçaram horrivelmente Jet Li e Donnie Yen na ação.

5) Mulan não tem química com seu par romântico – o sem graça Chen Honghui (interpretado por Yoson An).

6) O filme é uma versão da Disney da lenda de Mulan. Mas não consegue ser divertido e interessante para crianças, nem ser sério (ou épico) o suficiente para o público mais velho – particularmente falando.

Enfim, é uma versão sem graça, esquecível e sem nenhum momento memorável. Infelizmente.

Mulan

Ano: 2020

País: EUA

Direção: Niki Caro

Elenco: Yifei Liu, Donnie Yen, Li Gong, Jet Li

Sinopse: Em Mulan, Hua Mulan (Liu Yifei) é a espirituosa e determinada filha mais velha de um honrado guerreiro. Quando o Imperador da China emite um decreto que um homem de cada família deve servir no exército imperial, Mulan decide tomar o lugar de seu pai, que está doente. Assumindo a identidade de Hua Jun, ela se disfarça de homem para combater os invasores que estão atacando sua nação, provando-se uma grande guerreira.

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Crítica: LINDINHAS (Cuties) | Netflix

O filme polêmico da Netflix! Acusado de EROTIZAR CRIANÇAS DE 11 ANOS de idade – principalmente depois do primeiro pôster infeliz lançado para divulgar a obra internacionalmente.

Este “Cuties” (ou “Lindinhas” aqui no Brasil) é um drama que até possui algumas boas ideias e uma intenção de denúncia sobre abuso infantil válida que incomoda bastante por ser real. Infelizmente, hoje em dia as crianças são erotizadas e muitos de nós não falamos nada. Vejo várias meninas menores de idade postando fotos e vídeos altamente sensuais no Instagram e Facebook e os pais nem falam nada. Ou esses pais não sabem que suas filhas fazem isso ou sabem mas acham normal. Coisa de criança moderna. E atualmente é muito mais fácil essa erotização principalmente porque toda criança possui um celular em mãos.

A história acompanha uma garota negra muçulmana doutrinada com severidade pela religião e família. Até que ela conhece um grupo de meninas no colégio que dançam e ensaiam para participar de um concurso.

O lado positivo de “Lindinhas” é justamente mostrar como vivemos em uma sociedade extremamente erotizada, e como a tecnologia facilita cada vez mais as crianças a terem acesso a qualquer tipo de conteúdo.

No cinema, por mais polêmico que o assunto seja, tudo vai depender da maneira como você transmite ele ao público. Tudo depende da forma como você conta a história. De como você filma. E muitas cenas de dança em “Lindinhas” são desnecessárias e filmadas erroneamente com uma sensualidade mas para regozijo do que para a denúncia.

Ao invés de transmitir o problema com uma visão sóbria, seca e realista, a diretora Maïmouna Doucouré ABUSA DA CÂMERA LENTA, DOS CLOSES NAS BUNDAS e passeia demais a câmera PELO CORPO DAS ATRIZES (de 11 anos!!!). Uma escolha equivocada e extremamente negligente da direção que prejudicou todas as válidas intenções de protesto da história.

MIGNONNES (Cuties, Lindinhas)

Ano: 2019

País: França

Dirigido por: Maïmouna Doucouré

Elenco: Fathia Youssouf, Médina El Aidi-Azouni, Esther Gohourou

Sinopse:Em Lindinhas, Amy (Fathia Youssouf) é uma menina de 11 anos que vive em Paris com sua família de origem senegalesa. Quando, procurando compreender qual é o seu lugar no mundo e cada vez mais consciente de sua feminilidade em amadurecimento, ela entra para um grupo de dança da escola chamado “Lindinhas”, ela acaba entrando em conflito com os valores tradicionais de sua família.