Denis Villeneuve é um dos diretores mais competentes e promissores dos últimos anos. Longe de ser um vendido da indústria, Villeneuve é um diretor canadense com personalidade e pulso firme que estreou no grande circuito com o belo “Incêndios” de 2010, filme este que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na época. Em seguida, migrou para Hollywood e lançou o estupendo “Os Suspeitos” estrelado por Hugh Jackman. Dirigiu o bom “O Homem Duplicado” e em seguida voltou com outro filmaço chamado “Sicario”, e agora em 2016 entra no mundo da ficção científica com “A Chegada”, e em 2017 estreia no blockbuster com a continuação do clássico Blade Runner.
É notável no curto, porém, impressionante currículo de Villeneuve uma diversidade incrível de temas. Todos são dramas e em cada um é explorado uma realidade diferente cuja natureza humana é a principal engrenagem de suas peças, e fundamental para entender o homem tal qual ele é dentro de um determinado mundo.
“A Chegada” é uma ficção científica bem mais preocupada em entender e analisar uma situação à partir do comportamento hostil e temperamental do ser humano, do que propriamente em criar algo grandiloquente. O tempo é um fator de peso e inevitável para o homem. e aqui, tudo é muito sutil, contemplativo (mas sem ser tediante como os últimos filmes de Terrence Malick, por exemplo) e foge do que o cinema norte-americano vêm oferecendo de ficção científica ao público. Não considero uma obra perfeita (logo chego lá), mas é sem dúvida acima da média. As comparações com “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” são válidas, não em relação a narrativa ou história, mas em semelhança por ser este um filme que se preocupa em entender a natureza humana e seus alicerces utilizando a ciência como fundamento para tal estudo.
*ATENÇÃO! O parágrafo a seguir contém spoiler
Mas se “A Chegada” acerta ao criar um clima envolvente e misterioso em seu início e meio, com uma direção detalhista e instigante de Villeneuve, o terceiro ato é simplório demais diante da interessante premissa construída até ali. O “ser simples” não é o problema, mas neste caso, o roteiro de Eric Heisserer se esfria e busca saídas fáceis para chegar a uma resolução conveniente e sem o ápice das ambições propostas. O artifício do “ver o futuro” e a maneira como a personagem de Amy Adams resolve os conflitos finais (em relação a China, principalmente) são puramente convenientes e jogados ao público para facilitar o desfecho.
Há mais um uso essencialmente do drama pessoal da protagonista, e este, digamos, “dom” da personagem, do que uma relação harmoniosa entre a ciência e o drama familiar e pessoal, algo que acontece de forma emocionante e inesquecível em filmes como o já citado “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” e no mais recente “Interestelar”, que aliás, considero sim um filmaço e muito mais emocionante e memorável do que este “A Chegada”.
Mas não se preocupe pois “A Chegada” está longe de ser ruim e oferece uma narrativa envolvente acompanhada de uma produção soberba, desde os sutis efeitos até a fotografia belíssima de Bradford Young. As atuações de Jeremy Reener e Forest Whitaker são ótimas, mas é Amy Adams quem brilha sendo digna de cada elogio.
Apesar de não considerar a melhor ficção científica da última década como já ouvi alguns dizerem, “A Chegada” é muito mais filme do que a média em geral. Tem méritos e qualidades que instigam o público e fazem valer o ingresso.
Arrival-EUA
Ano: 2016 – Dirigido por: Denis Villeneuve
Elenco: Amy Adams, Jeremy Reener, Forest Whitaker
Sinopse: Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça ou não. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de Louise e a existência de toda a humanidade.